
Eu te ofereço versos furtados
Que correspondes com teu sorriso mais fingido.
Eu e você
Um lindo par de hipocrisias.
Que correspondes com teu sorriso mais fingido.
Eu e você
Um lindo par de hipocrisias.
"Escrever me toma de assalto, a qualquer hora do dia em verso, em prosa, é tinta de caneta que corre nas minhas veias e eu não posso resistir" Por Janete Lacerda
Na semana última fui apresentada ao MICROCONTO, que nada mais é que um conto pequeno, um “cuí” de conto ou um conto “gitinho”, uma maneira de brincar com as ideias e palavras. Ótimo para quem é ansioso, pois começo, meio e fim, dá-se no espaço de apenas 50 letras.


Sentou-se em frente ao computador decidida, depois de refletir por três semanas finalmente ela estava decidida a responder aquele bendito e-mail, mas o que dava raiva era aquela mania de protelar tudo, por que não agia como uma pessoa normal, pessoas normais leem seus e-mails e respondem, óbvio, pelo menos aqueles que valem a pena responder, ela queria responder, ela quis demais responder aquele e-mail tão bonito e inesperado, tão bom de ler, no entanto, sabe-se lá, estava sem palavras, fora culpa do e-mail, o e-mail a deixara sem palavras, de modo que depois de uma semana, talvez tivesse traçado um rascunho mental da resposta. “O tempo sempre me fez de gato e sapato. Não é à toa que meus pesadelos sempre são os mesmos: eu desesperadamente querendo chegar a um lugar e sempre muito atrasada, não consigo nunca! Esses pesadelos já estão tão cansativos que aprendi a controlar o meu medo deles. Digo pra mim mesma nos sonhos: já sei que não vou chegar atrasada, então vou me arrumar bem devagar e acabar com esse desespero... Na escola meu horário era da 2ª aula pra frente, eu não tinha mais cara de tanta história que eu inventava para porteiro me deixar pegar pelo menos uma vez na vida uma presença da primeira aula. Matei parente, tive várias doenças, fui atropelada, perdi o ônibus, a mais clássica era a que eu precisava entregar um trabalho valendo nota, só o meu bimestre valia 500 mil pontos, haja criatividade. Pra mim, o tempo sempre pareceu passar muito mais rápido do que pros outros, menstruei aos 10 anos, as outras meninas aos 12, 13 anos e eu só querendo brincar um pouco mais... Essa era a minha luta contra o tempo, sempre dando um jeitinho de esticá-lo, assim eu queria fazer o meu próprio tempo, fingindo não ter pressa. Prometi pra mim mesma que não faria nada sem antes garantir que eu estava pronta para aquilo e que realmente eu queria. Ignorei qualquer tipo de pressão psicológica, foram anos de treino... Às vezes eu me pego negando as coisas querendo elas. Acho que isso já virou mania. Mania de gente velha sabe, só pra não perder o costume. Mas a boa notícia é que o primeiro passo que gente viciada tem que dar é reconhecer que precisa de ajuda. E eu depois de muito custo já reconheci isso. O que eu faço agora? Espero? Bom nisso eu sou craque. Enquanto eu esperava essa resposta comecei a lembrar o porquê comecei a escrever esse texto. Ainda estou pensando naquele bendito e-mail que não respondi que ainda vou me desculpar por não ter respondido no tempo certo, mas quero fazer isso pessoalmente, odeio mal-entendidos e sou expert em deixar más impressões. A questão é que tenho tanta coisa pra te falar e tudo começa a partir do momento que li esse e-mail. Mas o que eu realmente queria falar era sobre o quanto eu fiquei feliz e envaidecida com o poema você leu pra mim, já perdi a conta de quantas vezes eu o reli. Adoro cada palavra, cada vírgula dele que sempre leio pausadamente... Porém o que mais me envaidece é ele ter vindo de quem veio. Pois eu também, assim como no poema, preciso confessar uma coisa. Não estou apaixonada. Meus sentimentos nada têm de avassalador ou repentino, muito pelo contrário, o que eu sinto veio bem devagar, como tudo o que é bom que eu já conquistei na vida. A verdade é que eu sou muito lenta pra perceber as coisas que gritam na minha cara, da mesma forma que demorei pra ler o e-mail, então disso você já sabia. O que eu queria que você soubesse é que eu te admiro tanto e passei a te admirar mais ainda depois de cada texto seu que li, depois que conversamos por telefone e depois de te ver recitando poemas no sarau. E creio que isso só tem a crescer. Estou encantada com teus textos que despertam em mim uma mistura de sensações e quando eu ler especificamente os poemas me lembrarei da tua cara cínica recitando poesia, aquele olhar que tirava minha roupa e me deixava sem jeito e sem saber o que fazer. Claro, além dos textos que você ainda vai escrever, os quais já espero com ansiedade. Estou falando dos seus textos, mas não posso deixar de falar de você, que me encantou com teu jeito, com esse teu poder de persuasão que acredito não existir ninguém que não se convença ou que resista a ele. Recapitulando: não é paixão o que eu sinto. Acho que é amor, porque eu amo o jeito que você fala estar apaixonada, já amo o teu sorriso, e amo o jeito que me convences das coisas. E quanto a mim? Acredito que a única coisa que me resta agora é te obedecer... Aposto que a próxima ordem tua vai ser […]”



Ela queria o começo, o ponto de partida, entrar numa máquina do tempo e voltar exatamente para aquele lugar, entretanto, não desejava ir sozinha, quisera partir levando consigo toda a experiência acumulada, todas as decepções, todas as bobagens que fizera e todas as alegrias fugazes a exaurir lhe as esperanças até o ápice do oco existencial que era agora.
Acordara antes do galo e olha que o galo acordava muito cedo, preparava uma chaleira de café, café plantado, colhido, torrado e moído por ela mesma, estranho é que o galo até àquelas horas continuava dormindo, mas talvez fosse culpa da galinha recém chegada que o galo de calça-comprida se adiantou em botar para dentro do seu galinheiro, assim, com pronome possessivo, do seu galirém. O rádio em AM chiava mais do que dizia alguma coisa, ela aborrecida correu para ajeitar o Bombril, afinal era justo acordar tão cedo e ainda perder o radialista anunciando as Mensagens Para o Interior? Plantou um tapa no meio do rádio, ele deu uma melhorada, mais um tapa na lateral e pronto o rádio desandou a falar que era uma beleza, talvez a pilha estivesse fraca, deixasse estar que quando seu Bené passasse pelo rio ela iria comprar uma dúzia de Rayovac das grandes e de preferência encomendar um rádio novo. Quando chegasse o tempo do açaí, quem sabe o seu Bené aceitasse trocar algumas latas do produto e alguns cachos de banana por um rádio que não precisava ser novo não, bastava funcionar.


“Deux cafés s’il vous plaît”.
Antes do cão havia o gato, o gato era mais impessoal, protocolar, não era de festa, não tinha expressão, nunca estava triste, nem ficava alegre, no máximo raivoso, quando se via nele eriçarem-se todos os pelos do dorso. O gato era silencioso, reticentes em seus miados, era independente e agia com indisfarçável interesse.