sábado, 2 de abril de 2011

Amendoeiras


"Estava organizando meus papeis murchos, o tinteiro, a pena de ganso, quando o sol explodiu entre as amendoeiras do parque e o barco fluvial dos correios, atrasado uma semana por causa da seca, entrou bramando no canal do porto. Era enfim a vida real, com meu coração salvo, e condenado a morrer de bom amor na agonia feliz de qualquer dia depois dos meus cem anos"

(Gabriel Garcia Márquez)

"Depois de ter você, poetas para que? Os deuses as dúvidas? Pra que amendoeiras pelas ruas"...
(Versão Adriana Calcanhoto)

"Ficar sozinho é pra quem tem coragem... Eu vou ler meu livro Cem Anos de Solidão"
(Ana Carolina)

Não sei se a Adriana Calcanhotto se inspirou nos livros do Gabriel Garcia ou até mesmo se a música citada foi feita por ela... a Ana, por outro lado é bem evidente quando cita "vou ler meu livro Cem Anos de Solidão", obra do referido autor que costumo chamar o "o homem das amendoeiras"... aliás, acho que em todos ou em quase todos o seus livros ele fala da Terminalia catappa e eu sempre me perguntei porquê.
Lendo sobre amendoeiras, descobri que elas tem preferência por climas tropicais, que é de origem indiana, especificamente do litoral, também que sua taxa de germinação é de 80%.
Tamanha fertilidade talvez explique a paixão do autor, talvez onde ele nasceu houvesse muitas amendoeiras, o fato é que estas árvores são realmente lindas, poéticas e não tem como não se encantar com a pintura que elas deixam na paisagem.
Depois de tanto ler Garcia, criei uma associação entre amendoeiras e o tempo parado, ou melhor, uma visão longínqua do tempo, num passado de tradições simples, de diversões rudimentares, longe de toda movimentação que a tecnologia ocasionou aos tempos modernos.
A palavra amendoeira me remete a um deserto, a solidão, não a solidão dor, mas a solidão silêncio, solidão suavidade, a uma espécie de catarse que se daria em vários níveis do ser, como se o homem fosse feito de camadas e camadas de experiências que tendem a construção de bloco único e livre de conflitos, livre da impossibilidade de agregação/mistura (camadas de água e óleo).
Lembrei-me agora que ao lado da minha casa, da casa da minha infância tinha uma amendoeira de grande porte, aquela que é muito comum de se ver, as "Castanholeiras". Talvez porque fosse pequena, mas me lembro que me sentia feito uma formiga perto daquela árvore, acho que no período precisaria de uns dez braços para abraçá-la. Também me lembro que foi a única árvore em que eu nunca subi... aliás acho que nunca dei muita importância para ela, mas depois que mudei de casa ela é a única lembrança, a única coisa que continua lá, o resto agora é bem diferente e por isso, a importância dela hoje é a capacidade de juntar o meu eu criança ao meu eu agora e isso é mágico, porque não sou mais aquela criança magrela e pálida e ao mesmo tempo sou ainda pálida e querendo que a magrela renasça do meu intimo e me faça ser melhor do que me tornei.

Um comentário:

  1. Infância... aquele tempo em que muitos de nós sonhavamos ser logo adultos, "gente grande", para conseguirmos fugir ou tentarmos ir para onde nossos pequenos passos não permitiam. É um magnífico paradoxo como hoje, já adultos, muitos de nós, nostalgicamente, queríamos nossos olhos brilhando e nossas imaginações viajando como quando tínhamos 10 anos...

    ResponderExcluir

Comentar é irresistível...